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Les Bassins de Lousã et de Arganil, Vol I - Le Bassin Sédimentaire, 1986, 8, 231 p., Vol. II - L'Évolution du Relief

Capa
Autor(es):
DAVEAU, Suzanne avec la collaboration de PIERRE BIROT et ORLANDO RIBEIRO
Preço:
8 €
Páginas:
450
Ano Publicação:
1986

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Resumo

AS BACIAS DA LOUSÃ E DE ARGANIL. CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO GEOMORFOLÓGICO E SEDIMENTOLÓGICO DO MACIÇO ANTIGO E DA SUA COBERTURA,

A LESTE DE COIMBRA.

Esta memória reúne os resultados das investigações realizadas desde há quase meio século por Pierre BIROT e Orlando Ribeiro e retomadas, a partir de 1971, sob a direcção deste e de Suzanne DAVEAU, que redigiu a obra. Esta é dividida em dois livros, sendo o primeiro dedicado, no início, à apresentação da região em estudo e dos seus problemas e, em seguida, aos sedimentos conservados nas bacias da Lousã e de Arganil. O segundo livro trata da evolução geomorfológica regional e tenta uma síntese dos resultados obtidos. Além das figuras e quadros incorporados no texto, cada livro contém, em anexo, um álbum de fotografias e uma série de mapas. A bibliografia encontra-se no fim do segundo livro.

Livro I

A BACIA SEDIMENTAR

A PRIMEIRA PARTE, dividida em 3 capítulos, constitui a introdução geral aos problemas da região estudada (fig. 1).

O Capítulo I, que apresenta a história das investigações consagradas, desde os meados do século XIX, aos «grés do Buçaco», acentua o papel de quatro geólogos: CARLOS RIBEIRO, VASCONCELLOS, PEREIRA CABRAL, PAUL CHOFFAT E NERY DELGADO. A eles se deve a distinção entre uma série inferior gresosa, datada pela sua flora do Cretácico ou Terciário antigo, e uma série superior, grosseira e heterométrica, que pensaram ter origem glaciar. A precisão das suas observações abriu caminhos para novas investigações sobre as condiçôes de deposição e as deformações tectónicas ulteriores, mostrando a importância destes sedimentos para a interpretação tect6nica e geomorfol6gica da região.

Depois de longa interrupção recomeçam as pesquisas de geomorfó1ogos, sedimentólogos e paleontólogas. Cerca de 1970, os conhecimentos novos, em relação ao século XIX, consistiam na provável distinção de quatro séries sedimentares, a partir de critérios fisionómicos, sedimentológicos e mineralógicos, e na datagem do Ludiano de uma fauna encontrada na segunda destas séries.

O Capítulo II trata da posição estrutural das bacias e tenta a actualização das investigações, em evolução rápida, que vão sendo dedicadas às grandes unidades morfoestruturais que enquadram a região estudada (figs. 2-6 e quadros I e II). Esta é limitada pelo importante acidente Norte-Sul que separa as zonas Ossa-Morena e Centro-Ibérico do maciço hercínico; constituída pelo Complexo xisto-grauváquico, é atravessada pelas raízes de compridos sinclinais quartzíticos e limitada a Leste por batólitos graníticos. O padrão das fracturas tardihercínicas define uma rede que futuros epis6dios tectónicos irão deformar (quadro x).

A análise do significado paleogeográfico do estudo do Triásico, efectuada por PALAIN (fig. 3), mostra as importantes variações de fácies que ocorrem numa série sedimentar de sopé e o jogo quase permanente, ainda que irregular, do acidente da Nazaré durante o Triásico. O Jurássico é caracterizado pela abertura de uma fossa subsidente de orientação Norte-Sul e por uma estabilidade tectónica suficiente para permitir o avanço das aplanações no pr6prio soco. Do Caloviano em diante, limitadas transgressões ocorrem no rebordo ocidental do bloco ibérico, transformado em margem oceânica do Atlântico Norte; o essencial da sedimentação apresenta no entanto fácies continentais cujo difícil estudo vai progredindo (quadro II).

A Oeste de Coimbra, os calcários do Dogger tinham sido arrasados por uma superfície de erosão desenvolvida em condições biostásicas; esta foi coberta por séries detríticas, nas quais se intercalaram os calcários da transgressão cenomaniana (figs. 4-6). Enquanto as séries inferiores são já bem conhecidas, o estudo das superiores começa a entrar na fase de rápidos progressos.

O Capitulo III descreve e localiza em traços largos as unidades geomorfológicas maiores da região em estudo. As bacias da Lousã e Arganil são um dos numerosos alvéolos tectónicos que marcam a parte ocidental da vertente atlântica da Península Ibérica. Constituindo a extremidade deprimida da vasta plataforma do Mondego, as suas formas articulam-se em dois conjuntos, separados pela crista quartzitica Penedos de Góis-Buçaco. Os problemas levantados pelas bacias são evocados de maneira preliminar, com a finalidade de facilitar a leitura dos capítulos consagrados aos sedimentos nelas conservados. R também apresentada a organização do relevo e da drenagem e os traços essenciais da paisagem dos dois compartimentos levantados que enquadram as bacias: a Cordilheira Central a Sueste e o Maciço Marginal a Oeste.

 

A SEGUNDA PARTE, constituída por 8 capítulos, é dedicada ao estudo dos sedimentos conservados nas bacias da Lousã e Arganil.

O Capítulo IV trata dos problemas metodológicos levantados pelo estudo dos sedimentos de uma região muito falhada, com afloramentos descontínuos ainda que numerosos; as fácies de tipo continental, espacialmente muito diversificadas e com raros fósseis, foram além disso submetidas a alterações, capazes de modificar profundamente as suas características.

Os métodos utilizados, bem como a sua evolução ao longo da investigação, são a seguir apresentados.

Finalmente é justificada a técnica de exposição adoptada nesta memória: primeiro a definição dos tipos regionais de sucessão vertical das fácies sedimentares (Capítulos V-VII), a partir das observações realizadas nos afloramentos mais favoráveis (fig. 7), depois a caracterização geral, a cronologia relativa e o significado paleogeográfico das séries sedimentares principais que foi possível distinguir (Capítulos VIII-XI).

O Capítulo V apresenta os sedimentos da parte ocidental das bacias (Mapas B e C, figa. 8-12, quadros III e IV). A boa qualidade dos afloramentos permite a distinção de quatro séries sedimentares sobrepostas: na base, os arenitos esbranquiçados do Buçaco, sobre os quais assentam as areias avermelhadas do Buçaqueiro e, a seguir, as argilas acinzentadas da Fábrica do Pisco, coroadas por cascalheiras heterométricas. Mostra-se que a fácies mineralogicamente empobrecida, com dominância de caulinite, que foi durante muito tempo considerada típica dos arenitos do Buçaco, resulta da alteração profunda de um sedimento, originalmente depositado sob a forma de um arenito feldspático, caracterizado pela presença de montmorilonite. As características da superfície de erosão na qual assentam as areias do Buçaqueiro são a seguir estudadas e, finalmente, são descritas as particularidades da extremidade meridional da bacia sedimentar, como que esmagada entre a Cordilheira Central e o Maciço Marginal, na passagem do grande acidente Nazaré-Lousã.

O Capítulo VI trata das sucessões sedimentares observadas nas altas colinas que acidentam a parte central das bacias (Mapas D e E, figs. 18-18). A parte inferior das vertentes da colina sedimentar de Sacões apresenta cortes claros que mostram a acumulação, sobre os arenitos da base, de arenitos arcósicos com montmorilonite (e, localmente, com atapulgite), a que se sobrepõem espessas séries detríticas, grosseiras, com alternância de fácies fluviais e de raña. As vertentes da colina de Santa, Quitéria enriquecem as observações anteriores, mostrando que fortes variações laterais de fácies se repetem com frequência. O revestimento sedimentar discordante da comprida crista quartzítica Penedos de Góis-Buçaco permite avaliar a espessura original dos arenitos do Buraco num mínimo de 150 m; permite também levantar os problemas tanto das silicificações, como dos movimentos tectónicos e erosões posteriores que afectaram as cristas. O ramo ocidental do sinclinal, ainda que actualmente menos levantado, encontra-se completamente despido do revestimento de arenitos, enquanto o ramo oriental, ainda que mais alto e espesso, o tem conservado em larga parte.

O Capítulo VII reúne as observações realizadas a Leste e Oeste das bacias, onde os afloramentos de sedimentos são menos contínuos (Mapas F e G, figs. 19-23, quadros V e VI). As arcoses da bacia de Arganil são cobertas pela acumulação de sopé de Travanca, constituída por blocos angulosos de xisto, com disposição caótica. Na bacia de Coja encontra-se o sítio importante da Fábrica da Carriça, onde as arcoses foram datadas do Ludiano por TELES ANTUNES. O interflúvio Mondego-Alva apresenta capas sedimentares de espessura variável; enquanto é possível reconstituir, em Sanguinheda, as características locais da superfície pré-Buçaco, noutros lugares as fácies, aliás muito variáveis, foram frequentemente transformadas por alteração.

A lomba quartzítica de Santa Eufémia ficou aplanada e coberta de sedimentos, antes de uma compressão longitudinal lhe ter voltado a dar um relevo ligeiro. As características dos sedimentos que a cobrem levam a discutir o problema da extensão oriental dos arenitos do Buçaco e a aventar uma hipótese sobre a evolução da região.

As características dos sedimentos conservados na bacia de Mortágua são resumidas de acordo com os estudos anteriores a que se junta a descrição de uma sondagem.

Os Capítulos VIII-XI vão retomar, na escala do conjunto das bacias e segundo uma ordem cronológica, as observações anteriormente apresentadas. Os Mapas H-L resumem os aspectos mineralógicos e o Mapa M tenta uma interpretação geral dos sedimentos.

O Capítulo VIII descreve as fácies existentes na série dos arenitos do Buçaco (fig. 24). Duas delas são dominantes: os arenitos puramente quartzosos com caulinite e os arenitos feldspáticos com montmorilonite. Os primeiros parecem derivados dos segundos por alteração. A deposição parece ter-se efectuado essencialmente sob a forma de areia, transportada por cursos de água tranquilos, num clima quimicamente tão pouco agressivo que os grãos de feldspato sobreviveram a um percurso de várias dezenas de quilómetros.

Os problemas que as outras fácies levantam são a seguir discutidos. A silicificação, que deve ter ocorrido várias vezes, encontra-se sempre em estreita correlação espacial com as cristas de quartzito. Alguns níveis finos acinzentados forneceram pólens. As fácies com calhaus baleados parecem resultar de lavagens episódicas dos calhaus, que teriam ficado muito tempo amontoados nas áreas de alimentação. As brechas angulosas encostadas às barras quartzíticas demonstram que uma fragmentação activa funcionava correlativamente à deposição dos arenitos. Ainda que muito diversas de local para local, as fácies mantêm-se, no conjunto, iguais em toda a extensão das bacias, inclusive no contacto das falhas que os limitam.

O Capítulo IX discute o enquadramento paleogeográfico doa arenitos do Buçaco (figs. 25-26). A sua área de deposição estendia-se, para Leste, pelo menos até aos afloramentos graníticos e não estava limitada, nem pelo acidente Nazaré-Lousã a Sueste, nem pelo grande acidente meridiano a Oeste. Os arenitos cobriam planícies xistentas de fraco relevo, brutalmente dominadas pelos relevos residuais das cristas quartzíticas; não se pode ainda decidir se a aplanação culminante destas é pré- ou intra-Buçaco. O problema da travessia da crista Penedos de Góis-Buçaco, pelos curso de água que depositaram os arenitos, ainda não esta resolvido.

A determinação da idade doa arenitos apoia-se na posição estratigráfica relativa dos dois jazigos com Debeya lusitanica (Sula e Vale de Madeira) e nos dois níveis de argila escura com pólens (Vila Flor e Carvalhais). É provável que a sedimentação tenha começado já no Cenomaniano e continuado até ao extremo do Cretácico final. A movimentação do acidente da Nazaré teria começado do lado do oceano no Cenomaniano inferior e ter-se-ia propagado para o interior muito progressivamente, ao longo do Senoniano, provocando uma longa fase erosiva dos arenitos anteriormente depositados.

O Capítulo X trata das duas séries sedimentares Supra-Buçaco, as areias do Buçaqueiro a Oeste e as arcoses de Coja a Leste. As areias avermelhadas do Buçaqueiro são sedimentologicamente muito pobres, quase unicamente quartzosas, com dominância quase absoluta da caulinite. Afloram sobretudo na parte ocidental das bacias e parecem resultar da erosão de um solo de alteração avermelhado, desenvolvido nos arenitos do Buçaco. O sítio de Via Longa (fig. 27) indica que o acidente da Nazaré-Lousã se mexeu de maneira moderada antes da deposição das areias e mais fortemente a seguir.

As arcoses de Coja são, pelo contrário, sedimentos com fácies ainda muito próxima da sua origem granítica e, acessoriamente, xistenta. Depositadas em ambiente confinado, são caracterizadas pela dominância da montmorilonite e, localmente, por atapulgite, concreções calcárias ou blocos de granito meio apodrecidos. Datadas do Ludiano, são posteriores ao paroxismo da orogenia pirenaica.

O quadro VII sintetiza a possível evolução regional, do Cretácico até ao Oligocénico. Depois de longa fase de alteração e erosão dos arenitos do Buçaco ter-se-ia formado uma superfície de aplanação muito perfeita onde circulavam águas uraníferas. A surreição de alinhamentos meridianos, um deles correspondente à parte ocidental das bacias, provocou a deposição das arcoses de Coja na parte oriental (fig. 28). O presente bloco levantado da Cordilheira Central só teria começado a definir-se posteriormente.

O Capítulo XI trata dos sedimentos correlativos do levantamento da Cordilheira Central (figs. 28-29).

Discute-se primeiro o problema da passagem das arcoses de Coja para os sedimentos que resultam claramente da erosão de um bloco xiatento levantado. Parece ter existido um período de transição durante o qual convergiram para a parte oriental das bacias contribuições de origens diversas tendo-se manifestado cedo um primeiro impulso da Cordilheira Central, talvez no Oligocénico. A grande diversidade das fácies é de difícil interpretação. As séries fluviais xistentas dominam na base e as rañas com quartzito no topo, mas observam-me numerosas recorrências de fácies. É na parte central das bacias entre Sacões e Coja, que as formações grosseiras de sopé são mais abundantes, mas existem testemunhos delas não só a Oeste como também bastante longe para o Norte.

Uma actualização das ideias relativas às formações de sopé com blocos, e especialmente à fácies raña, é apresentada: têm de ser distinguidas várias gerações, cujo estudo será retomado depois da apresentação da análise geomorfológica, que vai tornar-se, a partir da individualização do bloco levantado da Cordilheira Central, o melhor dos guias.

 

Livro II

A EVOLUÇÃO DO RELEVO

Este segundo livro, que compreende as Partes 3 a 5 da obra, é consagrado à evolução geomorfológica, a partir do levantamento da extremidade ocidental da Cordilheira Central. A Terceira Parte é constituída por três capítulos; depois da evocação de diversos problemas metodológicos, trata das serras de xisto que dominam as bacias a sueste. A Quarta Parte estuda em cinco capítulos a evolução das bacias e do seu rebordo ocidental. A última e Quinta Parte tenta um balanço geral dos resultados obtidos e dos problemas que ficam por resolver.

 

TERCEIRA PARTE

O Capítulo XII apresenta os métodos de investigação utilizados e a sua adaptação aos dois ambientes, muito diferentes, dos blocos xistentos levantados e das bacias ainda em parte preenchidas por sedimentos complexos. A análise geométrica das formas é fecunda numa região cujo relevo é constituído, de maneira quase esquemática, por espaços aplanados, ligados por vertentes vigorosas. Apoia-se em várias técnicas gráficas: análise da hipsometria (Mapas N-P), cartografia das aplanações, perfis projectados. A análise é mais fácil nos blocos levantados; nas bacias os sedimentos trazem informações complementares, mas de interpretação às vezes difícil. A apreciação do papel da movimentação tectónica ocorrida durante a evolução do relevo é sempre delicada. Respeitando as regras da lógica, apoia-se sobretudo nas modificações da drenagem e na frescura de alguns entalhes e vertentes; devendo os factos lacaia inserir-se sempre no padrão geral, retratado pelas imagens de satélite.

O Capítulo XIII trata das lombas culminantes e das rechãs mais elevadas das serras de xisto (figs. 30-34). Estas são formadas por dois grandes blocos balançados, a Serra do Açor, drenada para Oeste pelo Rio Ceira, que desemboca nas bacias em Góis, e a Serra da Lousã, que os domina pelo seu rebordo mais abrupto, ao passo que inclina suavemente para o Sul, na direcção do Zêzere. As arestas quartzíticas mal dominam de algumas dezenas de metros as lombas xistentas culminantes. Estas são estreitas mas longitudinalmente muito regulares, testemunhando uma superfície derivada da aplanação eocénica. A sua boa conservação é explicada pela relativa permeabilidade das camadas alternadas de xistos e grauvaques, de disposição quase vertical. O regime do Rio Simonte, as fontes que aparecem nas vertentes e as culturas regadas do fundo dos barrancos são provas da existência de significativa circulação subterrânea das águas.

As rechãs mais elevadas são relíquias de largos vales maduros, de traçado perfeitamente semelhante ao dos vales actuais. Foram eles que alimentaram as espessas formações fluviais dos depósitos de sopé.

O Capítulo XIV tenta a difícil reconstituição das fases mais recentes do levantamento do bloco montanhoso (figs. 35-39). Utiliza para isso as observações realizadas na vertente sul, na bacia do Rio Zêzere. O arranjo das formas aplanadas situadas dos dois lados da falha de Cebola, que limita ao norte o bloco abatido do Zêzere, mostra que o seu jogo principal é posterior ao entalhe doa vales maduros. O perfil do alinhamento quartzítico Fajão-Moradal (fig. 31) mostra a existência de blocos fortemente balançados, ainda pouco modificados pela erosão. A existência de algumas capturas sugere, aliás, uma menor estabilidade tectónica na bacia do Zêzere do que nos blocos levantados ao Norte.

A interferência, na região de Góis, de formações de sopé com blocos, de acidentes tectónicos e de formas aplanadas, permite mostrar que a sedimentação ocorreu num sulco marginal subsidente, a que se seguiu uma fase de compressão (cavalgamento de Portela), e que aplanações locais, de fim de ciclo morderam ligeiramente o rebordo da montanha.

O modelado do fundo dos vales traz outros ensinamentos. Os meandros encaixados do Rio Zêzere conservam activa evolução lateral a montante dos blocos em via de levantamento, enquanto nestes se imprimem verticalmente, fixando-se ao longo das fracturas. Vastos compartimentos são separados por uma série de acidentes WNW-ESE, com espaçamento bastante regular, sobre os quais se articulam pequenos vales de fractura, de orientação Norte-Sul e de formas de entalhe muito vivas.

 

QUARTA PARTE

O Capítulo XV descreve o complexo arranjo de formas das bacias e do Maciço Marginal (Mapas N-P e figs. 40-41). A análise gráfica das altitudes máximas, mínimas e relativas permite distinguir os espaços sobretudo marcados por levantamento tectónico ou por entalhe regressivo dos cursos de água e avaliar a energia local do relevo. A cartografia das aplanações escalonadas é empreendimento arriscado, já que são formas locais imperfeitas e posteriormente deformadas. As aplanações culminantes, entre as quais as da região de Góis foram apresentadas no capítulo anterior, constituem um conjunto pouco coerente, desenvolvido tanto em rochas brandas como em rochas resistentes. As que coroam o Maciço Marginal perderam qualquer vestígio de cobertura sedimentar, o que mostra que são posteriores a uma, primeira fase de levantamento e erosão; foram, por seu turno, fortemente deslocadas e entalhadas.

O Capítulo XVI estuda o traçado e a evolução da rede hidrográfica (figs. 42-48). Vários estilos de drenagem sucedem-se de Leste para Oeste. As redes são constituídas por segmentos adaptados, por nós de confluência e por largos wind-gaps abandonados. O perfil longitudinal dos rios principais apresenta roturas de declive situadas a altitudes concordantes, que parecem, por isso, estar em relação com oscilações do nível do mar. O escalonamento dos terraços e rechãs é muito mais simples, no vale do Rio Alva do que no do Ceira. O Alva inferior modelou largos vales, de perfil longitudinal muito atenuado, sucessivamente aos 200 m e aos 150 m, antes de imprimir os seus meandros no soco xistento. A complexidade do arranjo das formas no vale do Ceira mostra a complicação da sua história.

O Capítulo XVII trata da drenagem do nível aplanado da Serra da Vila (figs. 49-54). Embutido nas formas culminantes das bacias, estende-se largamente na parte ocidental destas. Conservado a cerca de 300 m na periferia da bacia da Lousã, mordeu sobretudo nas rochas brandas mas também nos xistos e calcários. Analisando as rechãs que dominam os vales e as largas caleiras actualmente desprovidas de drenagem, podem reconstituir-se alguns dos traços gerais da rede hidrográfica correspondente. A parte superior do Rio Ceira ia ter ao Alva, o alto Dueça seguia até à região da Lousã, uma drenagem de orientação meridiana, existia na parte ocidental das bacias e é provável que Mondego e Alva encontrassem a saída em direcção ao oceano, algures ao Norte do Luso. O Maciço Marginal, já levantado anteriormente, foi então aplanado na parte meridional e recortado ao Norte por longos vales de fundo plano, cujo traçado prefigura os entalhes actuais.

O Capítulo XVIII examina os sedimentos correlativos do nível da Serra da Vila, bem como as deformações que este sofreu (figs. 55-59). Enquanto a maior parte do nível está desprovida de cobertura sedimentar, encontram-se alguns restos, de difícil leitura., na periferia da colina de Santa Quitéria. Outros retalhos coroam, ao Norte de Miranda do Corvo, tanto o Maciço Marginal como a vizinha colina sedimentar do Buçaqueiro.

Um conjunto de grande importância situa-se a Oeste da Serra do Buçaco. Um depósito de fácies raña terá atingido o litoral conservado na Chã da Mata, à altitude presente de 240 m, tendo sido os blocos rolados pelas vagas. Este complexo parece anterior à aplanação da Serra da Vila e provavelmente correlativo do entalhe que a precedeu. Outros litorais, um pouco menos elevados (entre 170 e 210 m), observam-se ao Sul do Luso; podem ser correlativos do nível da Serra da Vila e teriam sido, neste caso, deformados ao mesmo tempo. A Sudoeste de Coimbra, o Complexo detrítico de Morouços, em via de estudo, pode trazer, de futuro, importantes elementos de interpretação. Um abatimento relativo afectou o nível da Serra da Vila tanto a Oeste (planaltos calcários), como a Leste da crista de quartzito Penedos de Góis-Buçaco (região das confluências), enquanto as regiões mais levantadas são a parte norte do Maciço Marginal e a Serra da Lousã.

O Capítulo XIX é consagrado ao nível da Chã do Freixo, no qual se organizou a actual drenagem (figs. 60-67). Trata-se de um conjunto de formas aplanadas, de aspectos variados, que se escalonam, na bacia da Lousã, entre 200 e 170 m. Os terraços com grandes blocos de quartzito que enquadram o Rio Ceira, o largo wina-gap que liga Miranda do Corvo à Lousã, a plataforma de Almalaguez e o planalto alcandorado de Vila Nova de Poiares permitem reconstituir a evolução durante a qual o Ceira, primeiro, e o Dueça, depois, tornaram a forma actual; a abertura da garganta inferior do Mondego interrompeu a sua confluência com o Ceira. Este conjunto de formas parece ligar-se a jusante aos terraços mais altos da região de Coimbra. Uma relativa tranquilidade tectónica teria presidido à sua elaboração.

O Capítulo XX trata, tal como o seguinte, dos aspectos variados da evolução geomorfológica recente. Ela tende, em regra, à exageração dos contrastes do relevo, através do entalhe vigoroso dos vales e da abertura de pequenas bacias de fundo plano, afastadas umas das outras (figs. 68-71). Estas, que fixaram os pequenos centros de povoamento, alinham-se ao longo de duas direcções principais: ao longo do desligamento NNE-SSW de Penacova-Verín e no sopé da Cordilheira Central. Os variados tipos de posição estrutural e de modelado são ilustrados através de quatro exemplos: o vale da Ribeira de Coja, a bacia de Miranda do Corvo e a da Lousã, a depressão de Semide. O seu fundo e os baixos terraços foram modelados durante períodos frios, que produziram abundantes gelifractos. A evolução da bacia da Lousã e ainda mais a de Miranda sugerem que certa instabilidade tectónica continuou entretanto a manifestar-se.

O Capítulo XXI é consagrado a outro aspecto da evolução recente do relevo: os entalhes lineares activos, que provocam localmente uma reactivação da evolução das vertentes (figs. 7'-76). Os meandros são formas de entalhe rápido, adaptadas ao pormenor da estrutura. Os pequenos vales de orientação meridiana, de formas vivas, e os vales dissimétricos, situados entre a Serra do Buçaco e a bacia de Mortágua, resultam da interferência entre erosão, estrutura e tectónica recente.

O perfil longitudinal do baixo Mondego e o dos terraços e outras formas de estabilidade relativa, que acompanham a garganta aberta por ele através das bacias, permitem situar o modelado recente da região estudada em relação às últimas oscilações estáticas.

Enquanto a maior parte das vertentes estão coberta de capas herdadas de coluviões, as mais antigas das quais datam do nível da Serra da Vila, existem localmente formas vivas de evolução (deslizamentos em massa e abarracamentos, aliás muitas vezes associados). Resultam da interferência de vários factores, ainda bastante mal conhecidos. A compreensão da evolução holocénica do clima vai ser melhorada pelos estudos polínicos em curso. Dois aspectos das actividades humanas tiveram consequências importantes na evolução do relevo: a exploração mineira das aluviões do Alva, desde a época megalítica e a desflorestação, cujo ritmo precisa ser estudado.

Na QUINTA PARTE apresenta-se, em dois Capítulos, o balanço local das observações efectuadas e os problemas de conjunto da evolução geomorfológica da fachada atlântica da Península Ibérica.

O Capitulo XXII reúne e ordena os resultados obtidos, referentes à progressiva realização do relevo actual. Chega-se à síntese, através da reconstituição da evolução dos três alinhamentos de alturas que dividem as bacias e que vão, de Leste para Oeste, do mais simples até ao mais complexo: a lomba quartzítica de Santa Eufémia, a crista de quartzito Penedos de Góis-Buçaco e o Maciço Marginal. A reunião de todos os resultados parcelares já alcançados permite estabelecer agora uma crónica da evolução regional desde a aplanação generalizada do Eocénico; por comodidade, a crónica está dividida em 23 episódios mais ou menos complexos. Trata-se só da caracterização e ordenação dos episódios, sem tentativa alguma de datagem absoluta, nem de avaliação da sua duração relativa. Constitui a apresentação, voluntariamente pouco interpretada, dos resultados da análise geomorfológica local.

O Capítulo XXIII tenta, pelo contrário, ligar esta crónica local à escala estratigráfica geral e situá-la no contexto espacial da fachada atlântica da Península. Um breve historial das investigações que têm sido dedicadas àquela e das dificuldades encontradas na distinção e datagem das superfícies de aplanação escalonadas, que a caracterizam, mostra que cada um dos seus compartimentos tem tido uma história tectónica e erosiva particular.

Pelo contrário, as técnicas de teledetecção aplicadas às terras emersas mostram que longos acidentes ligam estes compartimentos e os tornam interdependentes. As técnicas de estudo dos fundos submarinos da margem continental permitem, por seu lado, datar os principais episódios tectónicos, sedimentares e erosivos, que marcaram esta.

Caracteriza-se a evolução plio-quaternária através da comparação com a das bacias do Bierzo (Galiza) e do Baixo Alentejo litoral e da interpretação do escalonamento e do grau de alteração das aluviões e coluviões observados nas bacias.

O quadro VIII resume a proposta de interpretação resultante do presente estudo.

Informação actualizada em 06/08/2008