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A pequena agricultura de complemento na periferia de Lisboa

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Authors:
CAVACO, Carminda
Pages:
29
Year:
1981

Unavaliable publication

Abstract

Na periferia das grandes cidades a agricultura adquire alguns traços característicos. A expansão física das cidades faz-se em detrimento do espaço rural envolvente, com acelerações desiguais nas diversas direcções. A redução do espaço agrícola cria novas estruturas agrárias que condicionam as escolhas dos sistemas de produção, juntamente com factores de outra ordem. Ocorre com frequência a extensificação dos sistemas agrícolas, o desinteresse pelo cultivo e o aparecimento de incultos que aguardam o avanço urbano e com duração mais ou menos prolongada. Nestes, a população urbana de menores recursos pode proceder transitoriamente a uma agricultura em pequena escala, de fim de semana, essencialmente de autoconsumo.

Lisboa marcou a fisionomia rural dos seus arrabaldes e o modo de vida dos seus habitantes (saloios). Estes orientavam as suas actividades agrícolas em função da procura do mercado urbano próximo: hortaliças, cebola, feijão, batata, frutas, criação, ovos, leite, manteiga, carne, pão, vinho, azeite, pão cozido, etc. A venda dos mesmos fazia-se sem intermediários. As mulheres ocupavam-se do comércio retalhista desses produtos e da lavagem da roupa da sua clientela urbana. A cidade oferecia os seus estrumes e lixos, para a adubação das novas colheitas, e recebia as rendas correspondentes à apropriação fundiária periférica dos seus habitantes. A expansão da cidade fez-se à custa do espaço agrícola, mas à medida que a frente urbana avançava, foram persistindo ao longo dos séculos espaços vazios, comportando cultivos diversos. Nos últimos decénios, o crescimento da cidade tomou forma marcadamente tentacular, com vazios importantes entre os vários tentáculos. Onde persistia a actividade agrícola tradicional e as suas formas de adaptação rural e condição humilde. Esta heterogeneidade da ocupação do espaço aparece actualmente nos diferentes sectores periféricos da cidade. Mas mais significativa e característica julgamos ser a multiplicação recente das microexplorações dos tempo livres dos pobres. Trata-se, com efeito, duma agricultura familiar, de gente modesta, muitos já reformados e pensionistas, onde a ajuda da mulher é importante, como na agricultura camponesa, duma agricultura familiar, de gente modesta, muitos já reformados e pensionistas, onde a ajuda da mulher é importante, como na agricultura camponesa, duma agricultura de adultos e velhos, que já foram agricultores na sua província natal, que produzem para autoconsumo, e que assim preferem ocupar os seus tempos livres; pratica-se uma horticultura diversificada, mas com técnicas simples; mas cultiva-se apenas provisoriamente, enquanto não chega o bulldozer.

Last update on 18/07/2006