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Orientações climáticas para o ordenamento em Lisboa

Capa
Autor(es):
ALCOFORADO, Maria João ; LOPES, António ; ANDRADE, Henrique ; VASCONCELOS, João
Páginas:
81
Ano Publicação:
2005
ISBN:
978-972-636-165-7

Publicação esgotada

Resumo

O clima é um importante elemento do ambiente urbano; contudo, a qualidade do clima não é habitualmente tida em consideração no planeamento urbano e na promoção da sustentabilidade urbana e não existe ainda qualquer legislação sobre o assunto.
No âmbito da investigação sobre o clima urbano de Lisboa no Centro de Estudos Geográficos (CEG), vários temas têm sido tratados (nomeadamente em três teses de doutoramento e três de mestrado), tendo sido dado particular relevo às características da ilha de calor urbano e ao regime de ventos na cidade, a diferentes escalas. Os estudos foram prosseguidos no âmbito do projecto “Princípios climáticos para o planeamento urbano. Aplicação a Lisboa” (CLIMLIS), cujos principais objectivos eram, além de aprofundar os conhecimentos sobre o clima de Lisboa, de prever as modificações climáticas devidas ao crescimento da cidade e sugerir soluções para reduzir os impactes negativos do clima urbano. O interesse demonstrado pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) neste trabalho levou ao início de outro projecto (Orientações climáticas para o planeamento e o ordenamento em Lisboa), financiado por esta entidade.
Um dos obstáculos à aplicação útil dos conhecimentos de climatologia urbana é a dificuldade de comunicação entre os investigadores desta área e os agentes de planeamento; com o presente trabalho, procuramos contribuir para colmatar essa lacuna, “transformando” os conhecimentos adquiridos, nas duas últimas décadas, sobre o clima urbano de Lisboa, num conjunto de orientações climáticas para o planeamento e ordenamento urbanos. A partir do diálogo encetado com técnicos do planeamento da CML, foram definidas as principais linhas das propostas, que se prendem com a mitigação da ilha de calor urbano e com a melhoria das condições de ventilação. A execução do mapa das orientações climáticas para o ordenamento (fig. 18) foi precedido de outro elemento cartográfico indispensável, o mapa dos climatopos (fig. 16), áreas da cidade com características físicas homogéneas (considerando o relevo e a morfologia urbana) e que potencialmente apresentarão uma resposta climática semelhante.
Como base para a construção do mapa dos climatopos (fig. 16), foram produzidos os mapas da morfologia urbana para fins climáticos (através do tratamento de imagens de satélite Landsat) e das classes de ventilação (a partir do relevo e da rugosidade urbana); um elemento essencial do mapa das classes de ventilação é o “limite aerodinâmico”, que corresponde à fronteira entre as áreas de alta rugosidade do Sul da cidade e aquelas, no Norte de Lisboa, onde o atrito não é acrescido nem pela rugosidade própria da cidade, nem pelo relevo. A partir das classes de morfologia urbana e de ventilação foram obtidas 24 climatopos, reduzidos para 8 através de um procedimento explicado no texto e resumido na figura 11. As orientações para o ordenamento são sugeridas para os seguintes grupos de climatopos (fig.18 e Quadro III)
No Norte da cidade (a Norte do limite de rugosidade – A), foi delimitada uma extensa “área de baixa rugosidade”, constituída pelos sectores ainda relativamente vastos, com baixa ou média densidade de construção e, em relação à qual se define, como prioridade, a manutenção de baixos níveis de rugosidade e a criação de extensas áreas verdes; pretende-se, além de manter a qualidade climática da área, impedir que o aumento da rugosidade (dependente sobretudo do tipo de implantação urbana) venha a prejudicar as condições de ventilação e a qualidade do ar nas áreas a sotavento.
No Sul da cidade, em relação às áreas de média e alta densidade de construção (B e C) e nas quais os impactes negativos do clima urbano (ilha de calor e degradação das condições de ventilação e da qualidade do ar) são mais evidentes, propõe-se sobretudo evitar densificar a construção e aumentar a altura dos edifícios, manter ou aumentar, na medida do possível, a área verde e adoptar soluções construtivas que atenuem o aquecimento urbano, sobretudo através da escolha adequada dos materiais de construção e de cobertura.
Foram também delimitados uma série de corredores de ventilação (D), de orientação aproximadamente N-S (NW-SE a NE-SW), correspondendo a faixas relativamente desocupadas, ainda existentes no Norte da cidade e a grandes eixos viários que se prolongam pelos fundos de vale no Sul da cidade, com uma certa continuidade espacial; estas faixas “cruzam” ou agregam diferentes climatopos. A sua principal função é a de permitir a continuação da penetração dos ventos dominantes de N e NW até ao centro da cidade.
A frente ribeirinha (E) é a área com mais frequência afectada pelas brisas do Tejo e do Oceano, importantes factores de arrefecimento da atmosfera urbana, durante o Verão; nesta área a principal preocupação deverá ser a de permitir a livre circulação das brisas, através de um adequado ordenamento das construções (nomeadamente da sua orientação em relação à margem do rio).
A influência positive dos espaços verdes (F) sobre o ambiente urbano é bem conhecida. Além de modificarem o seu próprio clima, originando condições mais frescas do que as do espaço construído envolvente, pode-se criar, no interior dos espaços verdes com uma estrutura diversificada, um mosaico variado de microclimas. Os espaços verdes (sobretudo os de média ou grande dimensão) podem também influenciar, de forma positiva, o clima de áreas construídas próximas. Considera-se por isso desejável manter ou aumentar, sempre que possível, a área ocupada por vegetação, criando espaços verdes com uma estrutura diversificada e privilegiando a vegetação caducifólia nas áreas recreativas e residenciais; quando a sua função seja fundamentalmente de abrigo ou protecção, pelo contrário, devem-se utilizar espécies de folha persistente.

Informação actualizada em 27/05/2010