Resumo
Há dois tipos de geógrafos. Os especialistas, que o mundo académico contemporâneo parece privilegiar, e os generalistas, que parecem ser cada vez mais raros e invulgares, criaturas de um tempo outro que não aquele em que hoje vivemos. Mergulhadores em apneia, os especialistas, deslocam-se com dificuldade por locais onde a luz penetra pouco e são muitas vezes, pela elevada exigência da função que desempenham, mais individualistas e autocentrados. Focados em parcelas infinitesimais da realidade, os especialistas parecem muitas vezes menosprezar a importância e o valor intrínseco que uma perspetiva integrada encerra. São os geógrafos do tempo rápido e dos riscos calculados e a lentidão é, para eles, potencialmente fatal. Os generalistas, por seu turno, são verdadeiros navegantes que com audácia percorrem longas distâncias em águas pouco profundas, mas nunca superficiais, aproveitando as correntes e os ventos dominantes, sentindo-se mais realizados quando não se encontram confinados a espaços recônditos, exíguos e pouco ventilados. São os geógrafos do tempo lento, que saboreiam com deleite as luminosas paisagens que diante deles se vão sucedendo e constantemente buscam novos desafios, nunca se deixando vencer nem pela inércia nem pelo medo do desconhecido [...]