Abstract
Este pequeno livro, redigido no português brasileiro de Luciano Mattos, investigador da Embrapa Cerrados – Brasília (DF) e cientista visitante no CEG/IGOT-Ulisboa, entre fevereiro de 2020 e agosto de 2021, constitui-se como uma expressão original da leitura que fez sobre o Desenvolvimento Rural em Portugal entre finais do século XX e os dois primeiros decénios do século XXI. Trata-se de um trabalho importante e que só foi possível – e de um modo que teria sido difícil de imaginar antes – no âmbito da sua permanência em Portugal, com acolhimento oficial no CEG/IGOT-ULisboa no período referido. Aqui e noutras universidades do país contou com a consulta (envolvendo diferentes formas de colaboração) de colegas e de diferentes investigadores, em Portugal e em França (UMR ART-Dev, CIRAD), gestores públicos, coordenadores de Grupos de Ação Local (GALs), agricultores e responsáveis por organizações de algum modo ligadas à agricultura. Embora tendo sido um período dominado pelos efeitos e condicionamentos mais expressivos da pandemia de Covid-19, todo o trabalho se efetivou com um peso essencial de recolhas de informação primária (entrevistas, visitas de campo e grupos focais), e também com apoio bibliográfico pertinente e algum enquadramento panorâmico de conhecimento (documental ou de outro tipo) sobre as condições de países europeus próximos (em particular a França) e de políticas europeias, sem deixar de recorrer a exemplos e situações do Brasil, sempre que tal se revelou pertinente. Naturalmente, as circunstâncias da pandemia forçaram a necessidade de realizar grande parte do processo de sustentação empírica do estudo na forma de teletrabalho, inclusivamente no que toca à realização de metade das entrevistas. De facto, de uma centena de entrevistas semiestruturadas aplicadas, metade envolveu contactos à distância, numa primeira etapa (gestores públicos, coordenadores dos GALs e investigadores), facilitados pelas tecnologias de informação e comunicação disponíveis. Apenas numa segunda etapa as entrevistas foram presenciais (agricultores), auscultando atores individuais e coletivos do setor agrícola. Em qualquer caso, o resultado das recolhas foi bastante revelador, sobre um conjunto de processos e resultados, como o trabalho demonstra adiante. A leitura efetuada sobre o Desenvolvimento Rural em Portugal – muito alicerçada no apuramento quantitativo de síntese comparativa de apreciações segundo categorias obtidas após análise de conteúdo, por um lado, e por elementos qualitativos mais minuciosos das pessoas entrevistadas, por outro – não deixa de ser matizada por outras observações, incluindo as de apreciação pessoal. Estas constituem-se por vezes como sugestões ou recomendações que, além de resultarem do entendimento próprio do quadro de análise ensaiado, traduzem uma particular experiência de anteriores trabalhos e percursos do autor no Brasil, em domínios que cruzam as políticas públicas relativas ao rural e à agricultura e as responsabilidades profissionais em gestão nestas matérias.